segunda-feira, 1 de abril de 2013

Castro Donzon - Bandeira (35 km) Via de la Plata

" Não precisamos de continuar a caminhar, há muitas formas de ser forte e não há nenhum problema em desistir. O nosso caminho é a nossa verdade e ela é o melhor presente que temos para oferecer."


No dia 26 de Março, o Gui fazia anos e como de costume começámos o dia bem cedo: às 7h da manhã já estávamos todos reunidos a cantar os parabéns e a partilhar uma tarte de Santiago que chegou para todo o grupo e ainda para alguns companheiros do albergue como a alemã Anna e as 3 espanholas que tinham a música dos Beirut no despertador.

Arrancámos logo depois e decidimos seguir até Lalin pela estrada nacional, uma vez que os caminhos se adivinhavam maus como no dia anterior. Quem quis, pôde deixar a mochila no carro de apoio. Mal começámos a caminhar, encontrámos a Anna que nos fez companhia até Lalin. Também a dona do despertador nos apanhou algum tempo depois, chamava-se Irene e decidiu avançar uma etapa, ao contrário das duas companheiras que vinham num ritmo mais lento mais atrás.


Em Lalin, apesar de a cidade ser relativamente grande, foi uma maratona atrás de um café. Finalmente encontrado, reunimos o  grande grupo, já com os colegas que tinham chegado de carro e convivemos um pouco naquele ambiente quentinho.

Depois tivemos de nos fazer novamente ao caminho, à estrada no caso, e alguns quilómetros depois estávamos em Laxe. Ali decidimos voltar ao caminho e separámo-nos das nossas companheiras Anna e Irene que continuaram pela estrada pois ainda queriam chegar nesse dia a Outeiro, um propósito muito ambicioso.

Nós voltámos a molhar os pés na lama e nos charcos, mas todos os esforços foram compensados com as surpresas que o caminho nos reservava e o silêncio que nos proporcionava. Um momento alto foi a travessia, sempre debaixo de chuva, de uma ponte milenar. Depois de mais vacarias, água e caminhos de lama, acreditámos que já tínhamos passado Silleda, o local onde os nossos companheiros de carro nos esperavam. Parecia-nos que já tínhamos andado muito, mas a verdade é que só mais à frente é que estavam os nossos amigos. Ali, soubemos que só havia um albergue privado em Silleda e o grupo teria de se dividir. Decidimos caminhar mais 5 ou 6 km até Bandeira. Os que estavam de carro ficaram em Silleda e os peregrinos pernoitariam no parque de campismo de Medelo, em Bandeira. Antes de nos fazermos novamente ao caminho, aproveitámos o almoço volante que os nossos queridos colegas nos tinham comprado. Chocolate, pão, chouriços, fruta, tortilha e sumos fizeram as nossas delícias.


O cansaço já era muito e aqueles minutos em que estivemos parados arrefeceram-nos, o arranque foi por isso doloroso, mas o caminho era para a frente.

Mais estrada, mais dores, mais risos e mais chuva, apesar de fraca nessa tarde. depois de termos percorrido já alguns kms, vimos uma indicação para o parque de campismo onde ficava o albergue. Como sabíamos que teríamos de fazer um desvio de 3 kms, seguimos essa indicação, mais à frente, com a ajuda de um taxista, soubemos que aquele era o caminho mais longo e por isso, para nosso desespero, tivemos de voltar para trás. Mais Kms, mais estrada, mais barulho e chuva. Junto ao acesso para uma autoestrada, decidimos parar num café para ir à casa de banho e beber algo quente. Atravessar a estrada mostrou-se depois um desafio perigoso, mas com calma tudo se conseguiu.
Os nossos colegas ligaram-nos entretanto  a avisar que o parque estava fechado e que nos levariam de carro de volta para Silleda. Ficámos tristes e confusos, pois já tínhamos telefonado e nos tinham garantido que havia lugares ali. Voltámos a ligar e voltaram a confirmar, pelo que decidimos seguir.
E foi duplamente escoltados que percorremos os 3 dolorosos kms que nos levariam ao parque de campismo. à nossa frente seguia um amável senhor que nos indicava o caminho de carro pelo meio de campos a perder de verde. Não havia dúvida que a paisagem era inspiradora. Atrás de nós, seguiam os nosso amigos que queriam saber se chegávamos bem.
Moral da história: só fomos a pé porque quisemos!
O bungalow onde ficámos no camping era acolhedor, mas pequeno, por isso o grupo ficou mesmo separado nessa noite. Mas fomos tão mimados pelos nosso companheiros que ns deixaram muita comida e ainda foram comprar frango assado e empanadilha galega que esquecemos o resto.
Tudo o que queríamos era dormir e o Gui não perdeu tempo, caiu na cama assim que chegou e nem se apercebeu da comida que chegou e muito menos do champanhe que tinham comprado para festejar o seu aniversário.
É que aquele longo dia que tinha começado num albergue há 35 kms atrás ainda não tinha terminado! Mas ele tinha morrido para o mundo.
Os outros ainda se aventuraram a descer uma ladeira à frente do bungalow até aos chuveiros, jantaram e pouco tempo depois estavam a dormir.
Como ninguém sabia quando o Gui iria acordar, dormimos de luz acesa. E às 4h da manhã acordámos com um barulho estonteante, é que a linha do comboio passava ali mesmo ao lado!

Nota: Fotos de Pedro Costa

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